sábado, 3 de fevereiro de 2007

Tempestade no pólo Sul de Saturno

Na imagem vemos os dados
relativos à temperatura obtidos
pela Cassini. (©NASA/JPL/
Space Science Institute/GSFC)



A sonda espacial Cassini (NASA) detectou um gigantesco furacão, em plena actividade, no pólo Sul de Saturno. O furacão tem cerca de 8.000 quilómetros de diâmetro – 2/3 do diâmetro da Terra – e encontra-se rodeado por uma imensa parede de nuvens.

“Parece um furacão, mas não se comporta como um furacão”, afirmou Andrew Ingersoll, membro da equipa Cassini, da CalTech (Pasadena, EUA). “Seja o que for, iremos estudar com particular interesse o olho da tempestade para descobrirmos a razão porque ela lá está.”


Um vídeo obtido através de uma das câmaras da Cassini e onde se apresenta um período de 3 horas, revelou os ventos com velocidades de 550 quilómetros por hora que assolam o pólo Sul do planeta Saturno. A câmara também foi capaz de captar a sombra do anel de nuvens que rodeia o pólo e dois braços espirais de nuvens que têm origem no anel central. Estes anéis de nuvens, que se encontram 30 a 75 quilómetros acima do centro da tempestade, são 2 a 5 vezes mais “altas” do que as nuvens que rodeiam tempestades e furacões terrestres.

As nuvens que rodeiam o olho da tempestade, como se fossem paredes, são características nos furacões na Terra. Os furacões formam-se pela subida de ar húmido para a atmosfera, ao longo da superfície do oceano, libertando, ao longo deste processo, uma chuva intensa em torno da região circular interior – de ar descendente – que é conhecida como o ‘olho da tempestade’. Embora não se perceba se o que mantém o ‘olho escuro’, na região do pólo, é um processo de convecção húmida a sua parede de nuvens e os braços em espiral que apresenta, parecem apontar para que ele seja realmente um furacão.

No entanto, na Terra, os furacões precisam da força de Coriolis – que é a combinação entre a circulação atmosférica e a rotação do planeta – para se desenvolverem. Mas a força de Coriolis não é eficiente para desenvolver vórtices (furacões) na região dos pólos. Um furacão polar tem na origem regiões de baixa pressão que se encontram próximo dos pólos do planeta. Os vórtices polares são comuns e podem ser encontrados perto dos pólos de qualquer planeta com atmosfera, mesmo na Terra.

Algo que até agora só tinha sido detectado na Terra, mas que agora foi observado em Saturno, é a gigante parede de nuvens que envolve o olho da tempestade. Mesmo a famosa Grande Mancha Vermelha de Júpiter, que é muito maior do que a tempestade em Saturno, não aparente ter um olho, ou nuvens em volta desse olho, e é relativamente calma no seu centro.

A gigantesca tempestade em Saturno é diferente dos furacões terrestres porque parece estar ‘presa’ ao pólo – não se desloca. E porque Saturno é um planeta gasoso, a tempestade forma-se sem ter na base um oceano.

Nas imagens obtidas pela Cassini, o olho surge escuro no infravermelho, onde o metano absorve a luz, e apenas vemos as nuvens mais altas. O olho da tempestade parece estar num nível mais baixo do que a restante “superfície” de nuvens do planeta. “Esta é a visão mais interior de Saturno que até agora conseguimos observar em diferentes comprimentos de onda. Esta visão revelou um grupo de nuvens escura na base do olho.”

Observações no infravermelho, levadas a cabo com o telescópio Keck 1 (Mauna Kea, Hawaii, EUA) já tinham mostrado que o pólo Sul de Saturno é quente. As observações da Cassini confirmaram isto produzindo mapas de temperatura de alta resolução. O espectrómetro detectou um aumento de temperatura de 2 graus Kelvin no pólo. O instrumento calculou as altas temperaturas na troposfera superior e na estratosfera, regiões mais elevadas da atmosfera do que as nuvens que vemos nas imagens.

“Os ventos diminuem com a altitude, e a atmosfera parece reduzir, comprimir e aquecer na região do pólo Sul”, afirmou Richard Achterberg, membro da equipa Cassini (NASA Goddard Spaceflight). Observações a realizar ao longo dos próximos anos, à medida que o pólo Sul muda a estação de Verão para Outono levará a uma melhor compreensão do papel das estações nas mudanças dramáticas da meteorologia no pólo do planeta.

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